Nesta sexta-feira, 4 de julho, o Tocantins revive um misto de saudade e perplexidade. A data marca os dois anos da morte de José Wilson Siqueira Campos, ex-governador, fundador do estado e criador da capital Palmas. Ao mesmo tempo, o filho mais conhecido do patriarca político, Eduardo Siqueira Campos, completa uma semana preso — uma coincidência que escancara o contraste entre o legado histórico e o presente conturbado de uma das famílias mais emblemáticas da política tocantinense.
Siqueira Campos, falecido em 2023 aos 94 anos, é lembrado como um dos maiores nomes da história do Tocantins. Natural do Crato (CE), enfrentou a pobreza extrema, viveu nas ruas e trabalhou como seringueiro na Amazônia antes de chegar à região norte de Goiás, em 1964. Em Colinas do Norte — hoje Colinas do Tocantins — iniciou sua carreira política como vereador, passando depois a deputado federal por cinco mandatos.
Foi durante sua atuação parlamentar que liderou, com vigor e sacrifício pessoal, o movimento pela criação do Tocantins. Diante da resistência em Brasília, protagonizou uma greve de fome na Câmara dos Deputados, chegando a ser preso. Com a sanção da Constituição de 1988, o Estado do Tocantins foi finalmente criado. Siqueira foi eleito o primeiro governador e viria a ocupar o cargo outras três vezes, entre renúncias e reeleições. Também foi senador, reforçando sua imagem como uma lenda viva da política local.
Em seus últimos anos, mesmo debilitado pela idade e pela luta contra um câncer de próstata, manteve-se ativo e entusiasmado com os rumos da política. Em vídeo gravado pouco antes de sua morte, Siqueira — lúcido e fiel à sua paixão política — declarou confiança na capacidade de Eduardo Siqueira Campos de liderar Palmas. Disse, sem rodeios, que Eduardo era o que a capital precisava.
Hoje, no entanto, esse otimismo do pai se choca com a realidade do filho. Eduardo, que já foi prefeito da capital nos anos 1990, atualmente enfrenta denúncias e está preso há uma semana. A detenção ocorre num momento em que, curiosamente, seu nome voltava a ser ventilado com força nos bastidores políticos, sobretudo após meses de uma gestão elogiada à frente da prefeitura — marcada por obras, reestruturação administrativa e uma retomada do orgulho do palmense pela cidade.
Para muitos aliados e antigos admiradores de Siqueira, é impossível não enxergar nesta coincidência de datas um símbolo da fragilidade da política e das reviravoltas da história. Eduardo, herdeiro de um projeto político forjado com sangue, suor e greves de fome, hoje vive o mais difícil de seus capítulos públicos — justamente no dia em que se celebra a memória de seu pai, que jamais deixou de acreditar em sua trajetória.
Siqueira Campos será sempre lembrado como o homem que sonhou — e realizou — um estado. O legado dele está cravado nas avenidas de Palmas, na estrutura federativa do Tocantins e na memória coletiva de um povo. Já o destino de Eduardo ainda se escreve, agora sob o peso da Justiça, mas também sob o olhar atento de quem sabe que, na política, tanto a queda quanto a redenção costumam surpreender.